Um vídeo que circula nas redes sociais mostra um homem ateando fogo em uma plantação de cana-de-açúcar, na tarde de terça-feira (3), em Igaraçu do Tietê (SP). Ao contrário do que parece, no entanto, trata-se de uma técnica utilizada por brigadista para combater incêndios.

A informação que circula junto com o vídeo é de que um grupo de ciclistas estaria passando pelo local quando avistou uma pessoa que estava colocando fogo no canavial ali existente.

Após colocar fogo em uma pequena área do canavial, a pessoa adentra rapidamente em um veículo branco e sai do local. No vídeo também é possível ver uma queimada maior ao fundo de onde o homem iniciou as chamas.

O vídeo gerou comoção nas redes sociais, tendo em vista a crise ambiental que o estado de São Paulo enfrenta em relação às queimadas. Tanto é que chegou até a Polícia Militar Ambiental, que investigou o caso e constatou que, na realidade, o homem estava ajudando a apagar o incêndio. Segundo a Polícia Ambiental, a técnica é conhecida como "fogo contra fogo" e consiste em atear fogo de forma controlada em um trecho de vegetação para impedir que o fogo se espalhe.

A informação foi confirmada pelo coordenador da Defesa Civil de Igaraçu do Tietê, que explicou a reportagem que o serviço foi, inclusive, acionado pela própria corporação. "Nós já estávamos no local, mas o fogo estava se alastrando muito rapidamente, então eu acionei o Diogo Araújo para ele combater com fogo. Ele faz uma espécie de cerco do lado contrário das chamas e ateia fogo para que, quando elas se encontram, as chamas se extinguem", contou Marcos Alessandro Júlio.

Técnica antiga

A reportagem também conversou com o homem que aparece no vídeo. José Givaldo Diogo de Araújo é brigadista da empresa dona da área, técnico agrícola e trabalha em canaviais há mais de 40 anos. Ele contou, em entrevista, como funciona a técnica, que surgiu ainda quando a queima de canaviais era permitida.

"Na época, se queimavam quatro toneladas para corte manual, então tínhamos que usar essa técnica para o fogo não se espalhar. Trabalhei mais de 15 anos só com essa atuação", contou a reportagem.

Diogo Araújo explica que as chamas precisam de três fatores: a faísca (que pode ser um isqueiro, uma bituca de cigarro ou um fósforo), oxigênio e combustível (no caso, a cana-de-açúcar).


Para conter o fogo, uma queima controlada às margens do incêndio é realizada, acabando com o combustível e, como consequência, extinguindo as chamas.

O técnico agrícola ainda explica que é necessário fazer uma varredura da área para que o incêndio controlado aconteça na contramão do fogo que se quer combater.

"Quando eu chego em uma área de fogo, eu contorno o lugar para ver qual posição tomar, para ver para onde o vento está indo e iniciar o fogo contrário na área correta", conta Diogo.

Repercussão nas redes sociais

O brigadista explicou para a reportagem que ficou surpreso quando viu o vídeo circulando na internet, e que foi avisado por um diretor da repercussão.

"Eu falei para ele não se preocupar com isso, porque eu estou fazendo o meu serviço para que o fogo não se propague, mas eu não imaginei a proporção que o vídeo ia tomar", explicou.

Em nota à imprensa, a Polícia Ambiental reforçou que "a pessoa filmada é brigadista treinada e possui conhecimentos e técnicas para utilizar o 'fogo de encontro', além do fato de que, naquele momento, existiam ainda outros dois caminhões-pipa, próprios para o combate a incêndios, nas proximidades, trabalhando juntamente com ele.


" A corporação salientou que não recomenda a nenhuma pessoa o uso de qualquer técnica de combate a incêndios, e que essas atividades devem ser reservadas a pessoas treinadas.

O incêndio, que pode ter começado de forma criminosa, consumiu uma área de aproximadamente 17 hectares. A Polícia Civil procura pelos responsáveis.

 

g1 Bauru e Marília

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