Um dos mais importantes críticos do cinema nacional, o também ator, diretor, roteirista, escritor e professor Jean-Claude Bernardet morreu neste sábado (12), aos 88 anos. A informação foi confirmada pelo cineasta Eugênio Puppo, que trabalhou com o intelectual em projetos que exploram a relação entre cinema e jornalismo. Segundo informações de amigos, o cineasta teria sofrido um AVC e estava internado no Hospital Samaritano, em São Paulo. A causa da morte não foi confirmada, mas Bernardet, que era portador do vírus HIV, vinha com a saúde fragilizada por um câncer de próstata reincidente, que optou por não tratar com quimioterapia, e a visão prejudicada por uma degeneração ocular. O velório acontecerá no domingo (13) na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, entre 13h e 17h. Segundo, Puppo, a filha do crítico, Lígia Bernardet, está vindo dos Estados Unidos, onde mora, para o funeral.
Nascido na Bélgica em 1936, Jean-Claude passou a infância em Paris na França, e veio para o Brasil com a família aos 13 anos, naturalizando-se brasileiro em 1964. Em agosto de 2024, o cineasta, teve uma retrospectiva inédita de sua carreira no CCBB de São Paulo e do Rio de Janeiro, com filmes em que atuou como diretor, roteirista ou ator, como “O Caso dos Irmãos Naves” (1967), dirigido por Luiz Sergio Person e escrito por Person e Bernardet, que conta a história real de dois irmãos presos e torturados durante o Estado Novo por um crime que não cometeram, com John Herbert, Juca de Oliveira e Raul Cortez, entre outros.
Na direção, ele assina “Eterna Esperança: sem pressa e sem pausa, como as estrelas” (1971), sobre a tentativa de construção em São Paulo um estúdio denominado Cia. Americana de Cinema; com Antônio Fagundes, Antônio Pedro e Gianfrancesco Guarnieri; e “São Paulo: sinfonia e cacofonia” (1994), feito a partir de fragmentos de 100 filmes rodados na capital paulista. Seu curta mais recente é "A última valsa" (2024), que dirige ao lado de Fábio Rogério.
Crítica e livros
Durante os anos 1950, Bernardet trabalhou na Cinemateca Brasileira e participou do cineclube do Centro Dom Vital, onde começou a escrever suas primeiras críticas — primeiro sobre filmes de diretores internacionais, como Federico Fellini, e depois concentrando-se no cinema brasileiro, interessado na interlocução com os realizadores — especialmente com o grupo de diretores do Cinema Novo.
Em 1967, atuou brevemente como professor na Universidade de Brasília (onde foi um dos criadores do curso de cinema) e na USP, de onde foi aposentado compulsoriamente durante a ditadura militar (e para onde retornou em 1980, após a Anistia). No mesmo ano, publicou "Brasil em tempo de cinema", que trazia uma visão original do Cinema Novo. Bernardet é autor de 25 livros publicados no Brasil, transitando entre crítica, historiografia e ficção.
Sua obra literária inclui "Cineastas e imagens do povo (1985), dedicado ao documentário brasileiro, além de "Piranha no mar de rosas (1982)", "Voo dos anjos: estudo sobre o processo de criação na obra de Bressane e Sganzerla" (1990), "O autor no cinema" (1994), "Historiografia clássica do cinema brasileiro" (1995), "A doença, uma experiência" (1996), sobre sua convivência com o HIV, e "Caminhos de Kiarostami" (2004).
Tempos mais tarde, deixaria de lado a faceta de crítico de cinema e ensaísta para se dedicar à atuação, que já vinha experimentando esporadicamente ao longo dos anos, participando de filmes cm "Antes do fim" (2017), de Cristiano Burlan, com a atriz Helena Ignez, em que interpretam os próprios papéis.
O Globo