Com quase um milhão de
seguidores em suas redes sociais, a influencer Amanda Mangili, de Dois Córregos
(SP), tem sofrido ataques nas web. Segundo sua mãe, Janaína Mangili, as ofensas
cresceram tanto nas últimas semanas que a jovem, de 23 anos, pensou em desistir
do sonho que alimenta desde criança, de produzir conteúdo e fazer sucesso na
internet.
“São comentários muito
ofensivos que têm se tornado frequentes. Dizem que ela é toda torta, aleijada,
coisas horríveis, algumas que nem dá para repetir. Ela estava lidando com isso,
mas há alguns dias chorou muito e pensou em parar, disse que não faria mais as
lives”, conta Janaína.
Há pouco mais de dois anos, a
carreira de influencer era ainda um sonho, que começou a se concretizar depois
que a jovem alcançou mais de 100 mil seguidores, mesmo sem conseguir se
comunicar por fala devido a sequelas auditivas da paralisia cerebral.
A partir daí, esse número só
cresceu, a jovem foi contratada por agências e está prestes a fechar um
contrato com uma rede de lojas que atua em todo o país. Muito vaidosa e atenta
às tendências de moda e beleza, Amanda tem o sonho também de criar uma linha de
maquiagens.
Suas lives no Tik Tok, onde
tem mais de 560 mil seguidores somente nesta plataforma, chegam a ter mais de
500 pessoas participando simultaneamente. Alguns vídeos alcançaram quase 4
milhões de visualizações.
Mas na esteira de toda essa
repercussão, a jovem tem sofrido ataques constantes (veja prints das ofensas
abaixo).
Além das ofensas em relação à
aparência física, Janaína conta que a filha também enfrentou vários casos de
importunação sexual.
“Tiveram vários homens que
mandaram mensagens com conteúdo explícito, fotos de partes íntimas no direct da
Amanda, além de comentários também nesse sentido.”
Janaína afirma que apenas
bloqueia essas pessoas e começou a fazer alguns prints dos comentários, porém,
ainda não registrou nenhum boletim de ocorrência. Ela contou também que recebeu
mensagens da mãe de umas das autoras das ofensas com pedidos de desculpa.
Nas lives, um grupo de
moderadores ajuda mãe e filha a apagarem e bloquearem usuários que acabam
participando apenas para disseminar ofensas.
“Essa pessoas são grandes
amigos, que torcem pelo sucesso da Amanda e eles têm conversado com ela, além
do pessoal da agência, para explicar que é uma consequência, infelizmente, do
crescimento dela nas redes sociais, ela está muito exposta."
“Quando ela disse que iria desistir, parar com as lives, eu disse que ela poderia fazer o que quisesse, que eu apoiaria, mas que se decidisse ficar, precisaria aprender a lidar com isso", afirma Janaína.
Até bebê de ex-BBB
Nesta semana, o casal de influenciadores e ex-BBBs Viih Tube e Eliezer contou, em entrevista ao programa Fantástico, que a filha Lua, de apenas 7 meses, sofre uma onda de xingamentos e que os dois pensaram inclusive em parar de postar fotos da bebê.
Os ataques também preocupam a
mãe da Amanda, que sempre apoiou o sonho da filha. Apesar dos desafios
enfrentados, Janaína vê nesse trabalho e nas conquistas dela pequenas vitórias
na luta pela inclusão das pessoas com deficiência, especialmente na questão da
representatividade desse público.
"As mães de crianças com
deficiência entram em contato comigo para falar que se sentem representadas,
que amam ver os vídeos da Amanda, que não vão dormir enquanto ela não finaliza
as lives. É muito gratificante.”
Caminho difícil
Para quem acompanha toda a
desenvoltura da Amanda na produção dos conteúdos nas redes sociais é até
difícil imaginar as dificuldades que ela enfrentou desde que nasceu.
A jovem nasceu prematura aos 8 meses de gestação e desenvolveu um quadro grave de icterícia neonatal, uma doença causada pelo excesso de uma substância produzida a partir da destruição de glóbulos vermelhos do sangue, a bilirrubina.
O excesso da substância se não
for controlado da forma adequada pode causar lesões no cérebro. Essas
complicações recebem o nome de kernicterus. Foi o que aconteceu com a Amanda
quando ela ainda era uma recém-nascida e provocou a paralisia cerebral.
"Com cinco meses ela não sentava e não firmava a cabeça, quando fez sete meses também não e com oito meses ainda não e o pediatra falava que era normal pelo o que ela tinha passado. Mas só descobrimos que tinha algo errado quando ela ficou doente e o pediatra dela tinha viajado, então fomos para Jaú”, lembra Janaína.
A mãe conta que foi o pediatra
da cidade vizinha que percebeu tinha alguma coisa errada assim que viu
Amanda.“Ele perguntou o que essa bebê teve quando nasceu? E quando nós
contamos, ele explicou que a icterícia vai pro cérebro e a infecção ali mata
células responsáveis pela coordenação motora, aquelas células que são
responsáveis por você sentar, por você ter o seu controle.”
Com o diagnóstico, Amanda
começou os tratamentos que, segundo o médico deveriam ter sido realizados desde
os dois meses de vida. Foi uma luta contra o tempo e previsões médicas pouco
animadoras.
“Era cavalo, era fisio, fono, constante, semana toda. E isso foi por 17 anos, essa rotina. Aos quatro anos, ela andou. E eles [médicos] falavam que ela não ia andar. Não ia andar e que ela ia ficar em um estado vegetando. E foi tudo ao contrário. Quando ela tinha 4 anos, nós ouvimos um barulho e quando olhei ela veio pelo corredor andando. Foi emocionante.”
Sequelas auditivas
Amanda também teve sequelas
auditivas, por isso ela não ouve perfeitamente e não aprendeu a falar. Mas,
cada avanço da filha, que conseguiu ser alfabetizada e também aprendeu a se
comunicar pela Língua Brasileira de Sinais, é uma realização também para Janaína,
que nunca desistiu de lutar pelo desenvolvimento da jovem.
“Eu tenho uma convicção que eu
ia conseguir ajudar a Amanda a andar e ela conseguir fazer certas coisas. Não,
ela não vai ficar numa cadeira de roda, não, ela não vai precisar de fralda pro
resto da vida, ela não vai. Eu chorava e falava, ela não vai ser assim. E aí,
eu acho que foi mais a força dela, porque ela sempre foi muito feliz, sabe?
Tudo ela sorria, ela nunca foi até uma terapia chorando. Eu acho que é um
conjunto, as terapeutas foram boas, o tratamento foi bom e a força de vontade
dela é demais”, completa.
G1