Desde 2012, a Organização das
Nações Unidas (ONU) declara 11 de outubro como o "Dia Internacional da
Menina" na tentativa de promover os direitos de meninas, adolescentes e
jovens e ampliar estratégias para eliminar as desigualdades de gênero em
diferentes países.
A iniciativa de celebrar a
data mundialmente começou com um projeto da organização não governamental Plan
International do Canadá. Depois de obtido apoio do governo canadense, a
resolução foi aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas em dezembro de
2011.
Desde a última segunda-feira
(9), a mesma data passou a fazer parte do calendário oficial do estado de São
Paulo. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) sancionou a lei de
número 17.788, que institui o "Dia da Menina" em 11 de outubro. A
sanção foi publicada no Diário Oficial.
A lei é de autoria da deputada
estadual Marina Helou (Rede), que apresentou o projeto em 2019, conforme consta
no site da Alesp. Na época, Marina alegou que celebrar a data proporcionava
debater sobre violência contra meninas e desigualdade de gênero.
"As violências pelas
quais as meninas são submetidas são naturalizadas e percebidas como parte
inerente a sua vida, e é essa noção que o Dia da Menina pretende debater. Os
dados sobre desigualdade de gênero, na infância e juventude, são alarmantes.
São Paulo é o estado que lidera a porcentagem de meninas que estão em situação
de trabalho infantil (9,4%). Portanto, o Estado, assim como os demais atores
políticos, deve se sensibilizar sobre a importância da instituição do 'Dia da
Menina' no estado de São Paulo", argumentou.
A deputada ressaltou que foi
um projeto que nasceu em conjunto com a ONG Plan Internacional Brasil.
"A gente tem uma parceria
com essa ONG, com essa causa das meninas, há bastante tempo. Foi um projeto que
foi construído pelas meninas da Escola de Liderança de Meninas. Um marco
importante e eu fiquei muito feliz porque reconhece a luta das meninas como uma
prioridade para o nosso estado", afirmou.
"Essa é mais uma ação que
a gente pode ter para garantir a equidade de gênero e acelerar o relógio. E tem
dois pilares muito importantes. Um é realmente a sensibilização da data da luta
das meninas, conscientizar a sociedade a respeito da causa e da equidade de
gênero. O outro é ser um trabalho feito com as meninas, mostrar que elas podem
ser lideranças e conquistar espaços na política", finalizou.
Protagonismo
A Plan International se
apresenta como uma organização humanitária, não governamental e sem fins
lucrativos que atua em mais de 70 países. De acordo com a ONG, o objetivo é
garantir direitos e promover o protagonismo das crianças, adolescentes e
jovens, especialmente meninas. No Brasil, ela atua desde 1997.
A diretora-executiva da ONG no
Brasil, Cynthia Betti, contou que a prioridade no país é ajudar meninas, de 0 a
24 anos, a se proteger de violência, abusos sexuais, trabalho infantil e
inseri-las na sociedade com conscientização dos seus direitos.
"Fazemos ações nos 82 países que a gente atua para chamar a atenção da sociedade a respeito das meninas. A atenção que a gente fala é sobre dar voz para elas."
Cynthia explica que a ONG tem
o projeto "Meninas Ocupam", que permite que as jovens ocupem por
algumas horas cargos de liderança em instituições públicas e privadas,
mostrando que a liderança também é um lugar para elas.
Neste ano, a Plan tem
"ocupações" já confirmadas para espaços como o governo do Maranhão, o
Ministério Público no Maranhão (São Luís e Codó) e em São Paulo, além de
empresas, como AstraZeneca e Kimberly-Clark.
"A gente leva as meninas
a ocupar espaços de poder para que elas possam sonhar e mostrar que é
possível."
Sobre a lei que institui o Dia
da Menina, Cynthia comemora o projeto ter sido aprovado.
"Era um desejo da gente
trazer o projeto de lei justamente para trazer essa visibilidade para as
meninas. O Fórum Econômico Mundial disse que a gente pode levar 131 anos para
conseguir igualdade e existem duas alavancas principais para conseguir atingir:
o aumento da participação econômica das mulheres e a conquista da paridade na
liderança, como ocupar espaços de poder."
"Só que, ao mesmo tempo,
a gente vê que esses espaços, por exemplo, o espaço da mulher na política, é um
espaço muito hostil, porque tem poucas mulheres. Mas ao mesmo tempo, tem poucas
mulheres porque o espaço é hostil. A gente não sabe o que vem primeiro",
avalia.
O que diz a ONU
A ONU diz que o Dia
Internacional da Menina reforça a importância de investimentos na liderança e
no potencial das meninas em todas as fases de desenvolvimento.
No ano passado, a organização
divulgou que dados levantados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef) apontaram que meninas de 5 a 14 anos passam 160 milhões de horas por
dia a mais em atividades domésticas não remuneradas em comparação a meninos na
mesma faixa etária, comprometendo o acesso à educação, além de oportunidades de
lazer e atividades de socialização.
Em uma declaração no Dia
Internacional da Menina de 2022, a diretora-executiva da ONU Mulheres, Sima
Bahous, fez um alerta sinalizando que o investimento na implementação dos
direitos das meninas continua insuficiente.
“Imagino um mundo em que se
reconheça a autonomia e liderança de meninas e adolescentes, em que possam
usufruir plenamente de seus direitos, sem violência ou discriminação, como
líderes e parte de suas sociedades e comunidades em pé de igualdade”, disse
Bahous.
G1