"O dia dos raros, num dia
raro", essas são as palavras da enfermeira, professora da FEMA e mãe de um
adolescente de 14 anos, diagnosticado com Ataxia de Friedreich, Fernanda Cenci
Queiroz, de 41 anos. Há um ano e meio, Fernanda tem se dedicado ativamente à
militância em prol das doenças raras incapacitantes, buscando conscientizar a
sociedade sobre os desafios enfrentados por aqueles que convivem com essas
condições únicas e muitas vezes desconhecidas.
O Dia Mundial das Doenças Raras
celebrado nesta quinta-feira, 29, se repete a cada quatro anos e foi criado em
2008 pela Organização Europeia de Doenças Raras (Eurordis) para sensibilizar
governantes, profissionais de saúde e população sobre a existência e os
cuidados com essas doenças. O objetivo é levar conhecimento e buscar apoio aos
pacientes, além do incentivo às pesquisas para melhorar o tratamento. No
Brasil, a data foi instituída pela Lei nº 13.693/2018.
Considera-se doença rara aquela que
afeta até 65 pessoas em cada grupo de 100 mil indivíduos, ou seja, 1,3 pessoas
para cada 2 mil indivíduos. O número exato de doenças raras não é conhecido,
mas estima-se que existam entre 6 a 8 mil tipos diferentes de doenças raras em
todo o mundo.
As doenças raras são caracterizadas por
uma ampla diversidade de sinais e sintomas e variam não só de doença para
doença, mas também de pessoa para pessoa acometida pela mesma condição.
Manifestações relativamente frequentes podem simular doenças comuns,
dificultando o seu diagnóstico, causando elevado sofrimento clínico e
psicossocial aos afetados, bem como para suas famílias.
Geralmente, as doenças raras são
crônicas, progressivas e incapacitantes, podendo ser degenerativas e também
levar à morte, afetando a qualidade de vida das pessoas e de suas famílias.
Além disso, muitas delas não tem cura, de modo que o tratamento consiste em
acompanhamento clínico, fisioterápico, fonoaudiológico e psicoterápico, entre
outros, com o objetivo de aliviar os sintomas ou retardar seu aparecimento.
De acordo com Fernanda Cenci Queiroz, os
raros são invisíveis para as políticas públicas e até privada. “Vivemos órfãos
de protocolos e tratamentos para melhoria da qualidade de vida; a maioria nem
tem estudos para buscar tratamentos; temos que tirar da invisibilidade o que
precisa ter corpo e políticas próprias”, comenta.
Segundo ela, que é enfermeira há 20
anos, viu sua trajetória sendo transformada pela presença de uma doença rara na
família. “Meu filho Gabriel tem 14 anos e iniciou seus sintomas desde muito
cedo, mas foram oito anos para fechar o diagnóstico de ATAXIA DE FRIEDREICH; há
695 diagnosticados com Friedreich no Brasil; temos que divulgar esta data; uma
jornalista aposentada da Folha idealizou o cadastro para iniciarmos a nossa
busca; há oito anos ela luta pela causa; se mudou para os Estados Unidos e de
lá, nos manda informações, pesquisas e nos orienta para a nossa luta”, explica.
Para a OMS o diagnóstico correto pode interromper ou retardar a
progressão de uma doença, melhorar a qualidade de vida do paciente, orientar os
familiares e prevenir novos casos, além disto a Organização prevê que nos
próximos anos cerca de 8% da população mundial tenha algum tipo de doença rara,
ou seja, uma em cada 15 pessoas.
Abaixo, algumas das doenças consideradas raras:
Acromegalia;
Anemia aplástica, mielodisplasia e neutropenias constitucionais;
Angioedema;
Aplasia pura adquirida crônica da série vermelha;
Artrite reativa;
Biotinidase;
Deficiência de hormônio do crescimento – hipopituitarismo;
Dermatomiosite e polimiosite;
Diabetes insípido;
Distonias e espasmo hemifacial;
Doença de Crohn;
Doença falciforme;
Doença de Gaucher;
Doença de Huntington;
Doença de Machado-Joseph;
Doença de Paget – osteíte deformante;
Doença de Wilson;
Epidermólise bolhosa;
Esclerose lateral amiotrófica;
Esclerose múltipla;
Espondilite ancilosante;
Febre mediterrânea familiar;
Fenilcetonúria;
Fibrose cística;
Filariose linfática;
Hemoglobinúria paroxística noturna;
Hepatite autoimune;
Hiperplasia adrenal congênita;
Hipertensão arterial pulmonar;
Hipoparatireoidismo;
Hipotireoidismo congênito;
Ictioses hereditárias;
Imunodeficiência primária com predominância de defeitos de anticorpos;
Insuficiência adrenal congênita;
Insuficiência pancreática exócrina;
Leucemia mielóide crônica (adultos);
Leucemia mielóide crônica (crianças e adolescentes);
Lúpus eritematoso sistêmico;
Miastenia gravis;
Mieloma múltiplo;
Mucopolissacaridose tipo I;
Mucopolissacaridose tipo II;
Osteogênese imperfeita;
Púrpura trombocitopênica idiopática;
Sarcoma das partes moles;
Síndrome hemolítico-urêmica atípica (Shua);
Síndrome de Cushing;
Síndrome de Guillain-Barré;
Síndrome de Turner;
Síndrome nefrótica primária em crianças e adolescentes;
Talassemias;
Tumores neroendócrinos (TNEs).
O que é Ataxia de Friedreich
A Ataxia de Friedreich é uma doença rara, hereditária,
neurodegenerativa, debilitante, irreversível, também associada a cardiopatias,
diabetes, disartria, surdez, cegueira e escoliose. A medula e os nervos
periféricos degeneram e se tornam mais finos. Essa degeneração provoca
desequilíbrio e perda da percepção sensorial. A doença não afeta a função
cognitiva, manifesta-se principalmente no período entre infância e adolescência
e costuma levar os pacientes à cadeira de rodas dez anos depois dos primeiros
sintomas. É causada por uma mutação no gene denominado FXN 9. Apesar de rara, a
Ataxia de Friedreich é a forma mais comum de ataxia hereditária recessiva,
afetando, em média uma em cada 50.000 mil pessoas (National Institute of
Neurological Disorders and Stroke, EUA).
Quais os sintomas?
Os sintomas comuns que acometem essa doença são basicamente: andar
cambaleante, falta de coordenação motora nos membros superiores e inferiores,
fadiga (falta de energia e perda muscular), fala arrastada, problemas na visão,
na audição e na deglutição, cardiopatia, diabetes mellitus e escoliose
deformante.
Pode se manifestar de várias formas: tonturas ou perda de equilíbrio,
fala enrolada, marcha cambaleante, dor nos músculos e articulações, nas pernas,
joelhos, coluna, cãibras, dificuldade na visão, diplopia, distonia, engasgos,
entre outros sintomas. Eles progressivamente incapacitam o doente, tornando-o
cada vez mais dependente de terceiros e levando-o, na maioria dos casos, a uma
cadeira de rodas.
Com informações de Abordagem Noticias