Após 200 cidades brasileiras registrarem umidade relativa do ar menor ou igual à do deserto do Saara no começo de setembro, período marcado por céu encoberto por fumaça e a pior e mais extensa seca da história do país, alguns munícipios voltaram a registrar chuva nesta semana.

De acordo com o engenheiro florestal José Hamilton de Aguirre Junior, mestre em Arborização Urbana e Agronomia, as árvores têm papel fundamental na manutenção da umidade do ar e na redução de ilhas de calor nos centros urbanos.

No Dia da Árvore, celebrado neste sábado (21), o Terra da Gente explica como as árvores estão intimamente ligadas ao aumento do bem-estar nas cidades, fator que se reflete inclusive no mercado imobiliário.

Redução de ilhas de calor

Árvores de médio e grande porte, com copas densas e fechadas, são capazes de fornecer alta cobertura de sombra, principalmente sobre o asfalto. Isso ajuda a equilibrar a temperatura nas cidades e garantir a estabilidade climática local.

“O asfalto é a área da cidade que mais acumula e reflete calor. A arborização tem que ser implantada de maneira a cobrir o asfalto, porque daí liberaria também menos calor para a superfície e para a atmosfera, reduzindo assim os efeitos das ilhas de calor”, diz José Hamilton.

Ilhas de calor são áreas urbanas ou metropolitanas que vivenciam temperaturas mais altas do que as áreas vizinhas, devido, em geral, à concentração de edifícios, estradas e outras construções que retém o calor do sol.


Umidificação do ar

De acordo com o engenheiro, as árvores funcionam como bombas de água para a atmosfera, por conta da evapotranspiração. “Ela pega água e sais mineiras pelas raízes e conduz até as folhas para fazer a fotossíntese. Nesse processo de condução, uma parte dessa água acaba vaporizada”, explica.

Além disso, os resultados do próprio processo de fotossíntese são moléculas de glicose (usadas pela planta como alimento) mais moléculas de oxigênio e de água, que são liberadas para atmosfera. Desse modo, a árvore tem dupla ação na umidificação do ar.

“Essas micro gotículas abaixam a temperatura do entorno além de umidificar o ar, tendo um efeito refrigerador”, completa. O índice de umidade relativa ideal para o ser humano, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é entre 50% e 60%.

No começo de setembro, nove cidades brasileiras registraram índices menores do que 10%, sendo os piores números registrados nos estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais.

Corredores ecológicos e atração de polinizadores

Associado à fauna, um benefício da presença das árvores nas cidades é a criação de corredores ecológicos entre fragmentos de mata, que ajudariam os animais a transitar entre essas áreas na busca por alimento e parceiros reprodutivos.

“Muitas aves nativas que habitam florestas não passam por áreas descampadas, então a arborização urbana adequada e com espécies próprias formaria um trecho que permite a passagem delas de um fragmento para outro”, comenta o botânico José Ataliba Mantelli Aboin Gomes.


Além disso, ele menciona que as árvores atraem polinizadores para o perímetro urbano, prestando um serviço ecossistêmico essencial para agricultores familiares.

Drenagem do solo

Outra vantagem de ter cidades devidamente arborizadas está no aumento da resiliência à enchentes e alagamentos, que devem ser cada vez mais frequentes e intensos por conta das mudanças climáticas.

Segundo Ataliba, os canteiros onde as árvores são plantadas ajudam a aumentar a drenagem do solo, bem como quintais domésticos não impermeabilizados e calçadas verdes.

“Antigamente a maioria dos quintais eram expostos, com gramados, e hoje o pessoal impermeabiliza tudo, o que acaba sobrecarregando o sistema de drenagem, principalmente em áreas altas, onde toda essa água escorre para baixo”, explica.

“Todo esse planejamento do verde urbano tem que ser encarado como prioridade para o município. Principalmente agora, com essas chuvas cada vez mais intensas que estamos enfrentando”, finaliza o pesquisador.

 

Por Giovanna Adelle, Terra da Gente g1

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